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Clareamento dental: tudo que você precisa saber!

O clareamento em dentes vitalizados e desvitalizados (dentes com tratamento de canal realizado) tem sido um dos procedimentos estéticos mais requisitados pelos pacientes no consultório na atualidade. Um dos grandes benefícios deste procedimento é obtenção de resultados estéticos satisfatórios sem necessidade de qualquer desgaste dentário. É um tratamento extremamente conservador se comparado à procedimentos mais invasivos, como facetas, laminados cerâmicos ou coroas protéticas, os quais implicam em desgaste da estrutura dentária.

No entanto, o clareamento só terá o seu efeito desejado se forem considerados e analisados todos os fatores causais do escurecimento, sejam eles intrínsecos ou extrínsecos. Dentre os fatores intrínsecos estão alterações genéticas, ingestão excessiva de flúor e uso do antibiótico tetraciclina durante a formação dos dentes, traumas dentais e o processo natural de envelhecimento dos dentes. Considerando os fatores extrínsecos podemos citar o consumo de café, chá, vinho, cigarro e refrigerantes.

O processo de clareamento ocorre por meio de produtos químicos que são aplicados diretamente sobre os dentes vitais e não vitais. Nos dentes vitais, as substâncias utilizadas são a base de peróxido de carbamida e peróxido de hidrogênio em diferentes concentrações a depender da técnica utilizada. Nos dentes não vitais, pode-se utilizar o perborato de sódio ou o peróxido de hidrogênio em diferentes concentrações. Vale ressaltar que somente um profissional saberá orientar com segurança a concentração ideal do produto, a frequência, a maneira correta de aplicar o gel e o grau de branqueamento possível.

Existem basicamente três tipos de clareamento em dentes vitais: o clareamento de consultório, o clareamento caseiro e o jump-start (combinação da técnica de consultório e caseira). É válido informar que considerando apenas o fator tipo de clareamento, não há diferença de resultado entre as técnicas. O que diferenciará uma da outra será a rapidez com que o resultado será obtido. No entanto, outros fatores podem influenciar o clareamento como regularidade do paciente às consultas e uso do produto conforme orientado pelo dentista, hábitos e eficiência na higiene oral. Levando em consideração o clareamento de dente não vital, há apenas a técnica de consultório.

No clareamento de consultório, a aplicação do gel clareador é feita exclusivamente pelo profissional, que aplica o produto numa concentração três vezes mais potente que o utilizado na técnica caseira. Os resultados já podem ser observados em duas sessões, podendo chegar a três sessões.

Já na técnica caseira, o cirurgião-dentista confecciona uma moldeira personalizada para o paciente, fornece o gel à base de peróxido de carbamida com a concentração ideal para o caso e monitora semanalmente sua evolução. Nessa técnica, o manejo e a aplicação do produto são realizados em casa pelo paciente supervisionado semanalmente pelo dentista. O resultado surge entre três e quatro semanas.

É importante salientar que nem sempre o grau de clareamento desejado é alcançado. As manchas intrínsecas são mais difíceis de serem removidas do que as extrínsecas, pois geralmente o escurecimento está relacionado com a própria estrutura dos dentes. Em casos mais severos, há indicação de confecção de facetas de porcelana, por exemplo, que conseguem mascarar com eficiência o escurecimento, necessitando, entretanto, de desgaste dentário.

O clareamento também possui contraindicações. Como abordado anteriormente o clareador só atua sobre o dente. Indivíduos com restaurações de resina muito extensas, próteses e implantes não obterão ação efetiva do clareador, pois o gel não age sobre esses materiais. O procedimento também não é indicado para quem está passando por um tratamento médico sistêmico e debilitante. Além disso, não se deve fazer o clareamento em pessoas com menos de 16 anos, gestantes e lactantes.

É importante salientar que a comunidade científica tem trazido grandes novidades ao protocolo clínico para realização do clareamento. Em 2017, Souto maior et. al. através de um estudo de revisão de literatura e metanálise evidenciaram que o uso de fontes de luz para o clareamento de consultório não é imperativo para alcançar resultados clínicos estéticos. De fato o que produz o clareamento do dente é o peróxido e não a fonte de luz.

Outro protocolo posto em questão pelas publicações é a necessidade ou não de restrição alimentar durante o clareamento. Um estudo publicado na respeitada revista científica Operative Dentistry, comprovou que não há necessidade da chamada “dieta branca” durante o tratamento clareador. Uma das explicações destacadas pelo estudo é de que compostos que se acreditavam provocar escurecimento dental, como o café e outras bebidas e alimentos com corantes, são constituídos de cadeias macromoleculares que não conseguem permear através do esmalte humano.

Outro grande questionamento dos pacientes é quanto ao risco de sensibilidade dentária durante o clareamento. De fato, ela pode ocorrer e variar em duração e intensidade de paciente para paciente. Na técnica de consultório, a sensibilidade ocorre com mais frequência e intensidade do que na técnica caseira, já que se utiliza clareadores mais potentes. É importante evidenciar que os materiais clareadores têm apresentado grande evolução no sentido de preveni-la, incorporando dessensibilizantes á sua própria composição. Além disso, durante o procedimento, o profissional realiza algumas manobras para diminuir a sua ocorrência, como por exemplo, a aplicação de flúor.

O perigo do uso indiscriminado

No Brasil, desde 2015, existe uma resolução da Anvisa que determina controle na comercialização de clareadores dentais. A compra desses produtos só deve ser feita mediante prescrição pelo cirurgião-dentista. Infelizmente essa regra nem sempre é respeitada. Clareadores são encontrados disponíveis para venda em sites que não fornecem a procedência nem a composição do clareador, colocando a saúde dos usuários em risco.

Um dos exemplos a ser citado é o incentivo à utilização do carvão ativado para o clareamento do dente. Este produto é utilizado para diversos fins, desde o tratamento da água até na indústria de produtos alimentícios e farmacêuticos pelo seu poder de clarificação, desodorização e purificação em alguns processos. No entanto não existem estudos científicos que comprovem e embasem a eficácia do carvão ativado no clareamento dos dentes. Ao contrário, seu uso pode levar a uma ação abrasiva, podendo acarretar danos irreversíveis à gengiva e aos dentes.

Em 2017, a Journal of American Dental Association afirmou não haver evidências de que os produtos odontológicos com carvão ativado sejam seguros e eficazes para os dentes. Tal posição foi reinterada pela Associação Brasileira de Odontologia que ainda acrescentou que receitas caseiras não tem capacidade de clarear os dentes.

Por isso, é importante esclarecer que o uso indiscriminado de qualquer agente clareador e sem orientação de um cirurgião-dentista pode causar até mesmo danos irreversíveis. Os problemas podem variar desde uma inflamação, sangramento e ulceração gengival à necrose da polpa (morte do nervo dental) e fraturas no dente.